Excesso de alertas: como o ruído prejudica a resposta a incidentes cibernéticos

Helena Motta
1 de julho de 2025

O avanço acelerado das ameaças digitais nos últimos anos tem levado empresas de todos os portes a reforçarem suas estratégias de segurança. Soluções como SIEMs, EDRs, IDS/IPS, firewalls, CASBs e XDRs tornaram-se comuns nas infraestruturas corporativas. Essas ferramentas prometem visibilidade e controle sobre ambientes cada vez mais complexos e distribuídos. No entanto, essa abundância tecnológica tem gerado um efeito colateral preocupante: o excesso de alertas. 


O fenômeno conhecido como alert fatigue, ou excesso de alertas, afeta diretamente a eficiência dos times de segurança. As equipes se veem sobrecarregados por um volume massivo de notificações diárias que muitas vezes são irrelevantes ou redundantes. Em vez de fortalecer a resposta a incidentes, o ruído gerado pelas ferramentas de defesa acaba prejudicando a capacidade de detectar, priorizar e agir diante de ameaças reais. 


Neste artigo, exploramos como o excesso de alertas compromete a segurança cibernética nas organizações, analisamos suas causas e consequências e apresentamos estratégias eficazes para mitigar esse problema e melhorar a resposta a incidentes.

O que é a fadiga de alertas e por que ela acontece? 

A fadiga de alertas ocorre quando os profissionais de segurança são expostos a um volume tão grande de notificações que se torna impossível processar todas com o devido cuidado. De acordo com a Proofpoint, empresas podem receber até 17 mil alertas de malware por semana, sendo que menos de 20% são considerados confiáveis. Esse número ilustra como o excesso de dados pode se transformar em ruído, dificultando a identificação do que realmente importa. 


Esse cenário é alimentado por diferentes fatores que dificultam a tomada de decisões e retardam as ações, como: 


  •  Excesso de ferramentas de segurança são mal configuradas. 
  •  Regras de segurança genéricas 
  • Bases de dados desatualizadas 
  • Ausência de ajustes finos nos processos 
  • Ausência de priorização adequada dos riscos, com todos os alertas tendo o mesmo peso 



Outro ponto crítico é a fragmentação das soluções. Quando cada ferramenta opera de forma isolada, sem integração com outras plataformas, os eventos não são correlacionados, gerando redundância e desperdício de atenção. A isso se soma o crescimento do volume de dados e telemetria, impulsionado por ambientes híbridos e multi-cloud. O resultado é uma sobrecarga informacional contínua, que compromete a concentração e a eficácia da equipe. 


Impactos da fadiga de alertas nas operações de segurança 

O impacto mais visível da fadiga de alertas é a sobrecarga dos profissionais que atuam em centros de operações de segurança (SOC). Segundo pesquisa da Trend Micro com mais de 2.300 profissionais de TI e segurança da informação, 70% dos analistas afirmam estar emocionalmente sobrecarregados, e muitos relatam dificuldade para “desligar” do trabalho. Esse último acaba sendo um efeito colateral do monitoramento constante e da pressão por resultados imediatos. 


Essa exaustão impacta diretamente a qualidade da resposta a incidentes. Quando o volume de notificações excede a capacidade de análise da equipe, alertas críticos podem passar despercebidos ou não serem tratados com a urgência necessária. O tempo médio de resposta (MTTR) aumenta, o que amplia a janela de exposição a ataques e, consequentemente, os riscos financeiros, operacionais e reputacionais. 


Além disso, o alto número de falsos positivos consome tempo e recursos que poderiam ser direcionados à investigação de ameaças reais, à melhoria de processos ou à capacitação da equipe. Em muitos casos, como mecanismo de defesa inconsciente, os próprios analistas passam a ignorar alertas, criando um ciclo de vulnerabilidade e negligência que pode ser devastador. 

Como o excesso de alertas se forma no dia a dia das empresas 

Dentro de um ambiente corporativo típico, diversas ferramentas operam simultaneamente (como SIEMs, firewalls, soluções de endpoint, sistemas de detecção de intrusão e plataformas de resposta estendida, como o XDR). Cada uma delas coleta dados e emite alertas baseados em regras distintas. Sem uma estratégia unificada de correlação de eventos, esses alertas se acumulam, gerando duplicidade, ruído e confusão. 


A situação se agrava quando a empresa não possui playbooks de resposta bem definidos. Sem um fluxo claro de triagem e escalonamento, o tratamento de incidentes fica sujeito à subjetividade de cada analista. Isso torna a resposta inconsistente, lenta e propensa a erros. É comum também que empresas ativem alertas genéricos por padrão, sem levar em consideração seu perfil de risco, tipo de operação e ativos críticos. O resultado é um SOC reativo, sempre correndo atrás dos alertas, mas raramente atuando de forma estratégica. 

Reduzindo o ruído de forma prática 

O primeiro passo para resolver o problema do excesso de alertas é realizar uma revisão contínua das regras de detecção configuradas nas ferramentas. Isso significa eliminar redundâncias, ajustar sensibilidades e calibrar as regras para que reflitam com mais precisão a realidade da organização. Regras genéricas devem dar lugar a regras personalizadas, baseadas em contexto e histórico de comportamento. 


A priorização baseada em risco também é fundamental. É necessário levar em conta a criticidade dos ativos afetados, o perfil e histórico de usuários, a localização geográfica e o horário dos eventos. Esse contexto torna a análise mais assertiva e permite que os alertas realmente importantes sejam destacados. 


O uso de tecnologias de inteligência artificial e machine learning também pode ajudar. Essas soluções são capazes de identificar padrões anômalos, filtrar eventos irrelevantes e aprender com o tempo para reduzir o volume de falsos positivos. Quando integradas a plataformas de orquestração e automação, como SOAR e XDR, tornam possível automatizar etapas repetitivas da triagem e da resposta, aumentando a eficiência do time. 


Por fim, investir na capacitação contínua da equipe é essencial. Treinamentos técnicos, simulações de incidentes e acesso a relatórios de inteligência de ameaças garantem que os profissionais estejam preparados para lidar com a complexidade do ambiente e tomar decisões rápidas, mesmo sob pressão. 


A importância da gestão e da cultura organizacional 

Reduzir a fadiga de alertas não depende apenas da área de segurança. A liderança da empresa precisa compreender o impacto desse problema e apoiar mudanças estruturais. Isso começa pelo alinhamento entre segurança e estratégia de negócios. A proteção dos ativos deve ser tratada como prioridade, com investimento contínuo em pessoas, processos e tecnologias. 


Também é importante estabelecer acordos de nível de serviço (SLAs) e métricas claras de desempenho. Indicadores como tempo médio de resposta, taxa de falsos positivos e volume de alertas não tratados ajudam a diagnosticar gargalos e medir a evolução das iniciativas. Além disso, uma comunicação fluida entre as áreas de TI, segurança e gestão de riscos, reduz conflitos e facilita a atuação coordenada durante crises. 


Uma cultura organizacional que valoriza a segurança, apoia seus profissionais e prioriza processos bem definidos é o diferencial que separa empresas vulneráveis de organizações resilientes. 

Conclusão

O excesso de alertas representa hoje um dos principais obstáculos à eficiência operacional das equipes de segurança cibernética. A sobrecarga de notificações, combinada com a falta de contexto e priorização, compromete a capacidade de detectar e responder a ameaças com agilidade. Esse encadeamento de falhas pode inclusive colocar em risco a continuidade do negócio! 


A boa notícia é que esse cenário pode ser revertido. Com processos maduros, tecnologia bem calibrada, integração entre ferramentas e uma equipe capacitada, é possível transformar o ruído em sinal. O futuro da cibersegurança não está em acumular mais ferramentas, mas em usá-las de forma mais inteligente. Em tempos de ameaças constantes, visibilidade com inteligência e ação com estratégia são as chaves para uma resposta a incidentes realmente eficaz. 


O que a nova estratégia nacional de cibersegurança significa para empresas brasileiras
Por Helena Motta 7 de outubro de 2025
Nesse artigo vamos compreender como as principais decisões estabelecidas na Estratégia Nacional de Cibersegurança (E-Ciber) impactam as empresas brasileiras.
Por que cibersegurança também deve estar na pauta do RH e do Marketing?
Por Bruna Gomes 24 de setembro de 2025
Quando pensamos em cibersegurança, é comum imaginar que a responsabilidade está apenas nas mãos da equipe de TI. Mas, na prática, as ameaças digitais estão cada vez mais ligadas ao comportamento das pessoas e ao uso estratégico da informação. E isso envolve diretamente outras áreas da empresa, como RH e Marketing. Esses dois setores lidam com dados sensíveis, canais de comunicação e relacionamentos essenciais para a reputação da marca. Por isso, também estão entre os alvos preferenciais de cibercriminosos. Neste artigo, vamos mostrar por que a segurança digital precisa ser compartilhada com todas as áreas do negócio, quais são os riscos que atingem diretamente o RH e o Marketing, e como essas equipes podem contribuir ativamente para proteger a empresa. Continue a leitura!
Ransomware as a Service: como o crime cibernético virou modelo de negócios
Por Helena Motta 10 de setembro de 2025
O Ransomware é uma ameaça cibernética amplamente difundida e conhecida, mas nos últimos anos ele passou por uma espécie de industrialização com objetivo de potencializar os ganhos financeiros tanto de quem os cria quanto dos que o aplicam. Esse movimento causou um crescimento espantoso dessa ameaça, chegando ao ponto de ser declarada como uma ameaça à segurança nacional nos Estados Unidos. A escalada dos ataques tem afetado setores inteiros, com potencial de interromper serviços essenciais como hospitais, supermercados, sistemas de transporte e até fornecimento de energia. O impacto vai além do ambiente digital, podendo comprometer a operação e a reputação de uma organização por completo. Neste artigo, vamos mergulhar nesse assunto para compreender como o Ransonware as a Service (RaaS) funciona, assim como formas de evitar e minimizar sua ameaça.
Como identificar e evitar golpes digitais que miram pequenas e médias empresas
Por Helena Motta 26 de agosto de 2025
Pequenas e médias empresas (PMEs) tornaram-se um dos alvos favoritos de cibercriminosos. A percepção de que essas organizações têm defesas limitadas, cultura de segurança pouco madura e operações com terceirizações vulneráveis contribui para isso. Segundo o Mapa da Fraude 2025, da ClearSale, três em cada quatro vítimas de ataques cibernéticos no Brasil são pequenas ou médias empresas. E mais de 40% dos ataques globais registrados em 2024 miraram esse segmento. Este artigo apresenta os principais golpes digitais que atingem PMEs e oferece medidas acessíveis e eficazes para identificá-los e se proteger.
Governança de Dados: Como corrigir a promessa quebrada nas empresas
Por André Pino 12 de agosto de 2025
A governança de dados é, hoje, uma das principais prioridades para empresas que desejam se manter competitivas em um mundo cada vez mais orientado por informações. Cerca de 70% das corporações mais valiosas do planeta já são data-driven, o que reforça a importância de saber gerenciar, proteger e governar dados sensíveis de forma eficaz. No entanto, apesar dos investimentos, muitas organizações ainda enfrentam um cenário frustrante: a promessa da governança de dados não está sendo cumprida. Isso acontece porque os modelos tradicionais se baseiam em processos manuais, auditorias periódicas e equipes desconectadas. O resultado? Um sistema engessado, reativo e com políticas que raramente saem do papel. A governança de dados moderna, por outro lado, exige automação, visibilidade contínua e integração com ferramentas de segurança como DSPM (Data Security Posture Management) e DLP (Data Loss Prevention). Neste artigo, vamos explorar porque a governança de dados falha em muitas empresas e como soluções como o DSPM têm transformado essa realidade, tornando a governança mais eficiente, proativa e alinhada aos desafios atuais da segurança da informação.
Shadow AI: O risco invisível que já está na sua empresa
Por André Pino 30 de julho de 2025
A ascensão da inteligência artificial (IA) transformou profundamente a forma como empresas operam, inovam e se comunicam. Porém, à medida que ferramentas baseadas em IA se popularizam, de assistentes de escrita a plataformas de geração de conteúdo, uma ameaça silenciosa cresce dentro das organizações: o Shadow AI. Trata-se do uso não autorizado ou não monitorado de aplicações de IA por colaboradores, sem o conhecimento da equipe de TI ou segurança da informação. Segundo o relatório The State of AI Cyber Security (2025), produzido pela Check Point Research, mais da metade das redes corporativas (51%) já utilizam serviços de GenAI regularmente. Frequentemente sem políticas de governança bem definidas ou qualquer tipo de controle formal. Neste artigo, você entenderá o que é Shadow AI, os riscos de segurança e conformidade que ele representa e por que a governança de IA deve ser uma prioridade para empresas de todos os portes.
Vulnerabilidades em softwares de código aberto: riscos ocultos e como mitigá-los
Por Bruna Gomes 15 de julho de 2025
O código aberto está em toda parte. De sistemas operacionais a bibliotecas de desenvolvimento, passando por bancos de dados, ferramentas de automação e até soluções de segurança, o software open source faz parte da base tecnológica de milhares de empresas. Sua adoção cresceu com a busca por mais agilidade, menor custo e liberdade técnica e, por isso, se tornou uma escolha estratégica em muitos projetos. Mas junto com os benefícios, surgem também responsabilidades. Diferente de soluções proprietárias, o código aberto não vem com garantias formais de suporte ou atualização. Cabe à própria empresa decidir como usar, validar, manter e proteger o que adota. E é nesse ponto que surgem riscos muitas vezes invisíveis: vulnerabilidades não corrigidas, falhas herdadas de bibliotecas externas, ou até problemas legais por uso indevido de licenças. Neste artigo, você vai entender o que são softwares de código aberto, por que tantas empresas apostam neles, quais são os riscos mais comuns e, principalmente, como mitigar esses riscos. Vamos nessa? 
O papel do líder na proteção cibernética da empresa
Por Bruna Gomes 17 de junho de 2025
O cenário da segurança cibernética está cada vez mais desafiador. A cada dia surgem novas ameaças, mais sofisticadas e difíceis de detectar, exigindo atenção constante e respostas rápidas. Com isso, os líderes técnicos, especialmente os responsáveis diretos pela segurança da informação, estão sobrecarregados, estressados e, muitas vezes, trabalhando no limite. A verdade é que proteger uma organização não pode ser tarefa de uma única área. A responsabilidade pela segurança digital precisa ser compartilhada por toda a liderança. Em um ambiente cada vez mais conectado, qualquer decisão estratégica (de negócios, operações, tecnologia ou pessoas) pode impactar diretamente a integridade dos dados e a continuidade do negócio. Neste artigo, você vai entender por que a cibersegurança deve estar na agenda dos líderes, quais são os riscos da ausência de envolvimento e como decisões do dia a dia influenciam o nível de proteção da empresa. Continue a leitura!
Firewall, antivírus e EDR: qual a melhor proteção para sua empresa
Por Helena Motta 3 de junho de 2025
Nos últimos anos, o crescimento acelerado das ameaças digitais intensificou a necessidade de proteger os dados e sistemas da sua empresa como uma prioridade estratégica. Ataques como ransomware , phishing e malwares sofisticados estão cada vez mais frequentes e podem causar prejuízos financeiros, jurídicos e de reputação gravíssimos. Por isso, entender quais soluções de segurança são mais eficazes é essencial para tomar decisões informadas e garantir a continuidade do negócio. Mas afinal, quando falamos de Firewalls, Antivírus e EDR (Endpoint Detection and Response), qual dessas ferramentas oferece a melhor proteção para sua empresa? Ao longo do artigo vamos detalhar a aplicabilidade de cada uma delas, mas o que é necessário ter em mente desde o início é que cada uma atua em uma camada diferente da segurança cibernética e possui características específicas. Hoje, vamos explicar o que faz cada uma dessas soluções, comparar seus pontos fortes e fracos, e ajudar você a identificar qual combinação é mais adequada para a realidade do seu ambiente corporativo. Continue a leitura!
Por Helena Motta 20 de maio de 2025
Nos últimos anos, o crescimento do uso e da aplicabilidade de Inteligências Artificiais no mundo corporativo deu um grande salto. Longe do que o senso comum supõe, essa não é uma realidade somente na área de tecnologia, já que essas ferramentas têm encontrado cada vez mais espaço em setores como o da educação e saúde ou até mesmo de indústria e comércio. Como reflexo desse avanço acelerado, o Brasil é hoje um dos países mais vulneráveis do mundo quanto o assunto é o uso de IAs no ambiente empresarial, ficando atrás somente dos Estados Unidos. Segundo o NIST (National Institute of Standards and Technology) dos Estados Unidos, 54% dos líderes de Segurança entrevistados no Brasil durante o Global Cybersecurity Leadership Insights em2024 veem no aumento de superfícies de ataques um grande risco do uso de ferramentas de inteligência artificial. Diante desse cenário, é essencial que as empresas elaborem um programa de governança de IA para evitar incidentes que podem ser devastadores para a imagem e para a saúde financeira da instituição. No artigo de hoje, destrincharemos esse tema abordando principalmente os seguintes tópicos: O que é Governança de IA? Por que investir em Governança de IA é essencial atualmente? Como essa estratégia pode fortalecer a segurança das empresas? Boas práticas na implementação destas políticas