O Ransomware é uma ameaça cibernética amplamente difundida e conhecida, mas nos últimos anos ele passou por uma espécie de industrialização com objetivo de potencializar os ganhos financeiros tanto de quem os cria quanto dos que o aplicam. Esse movimento causou um crescimento espantoso dessa ameaça, chegando ao ponto de ser declarada como uma ameaça à segurança nacional nos Estados Unidos.
A escalada dos ataques tem afetado setores inteiros, com potencial de interromper serviços essenciais como hospitais, supermercados, sistemas de transporte e até fornecimento de energia. O impacto vai além do ambiente digital, podendo comprometer a operação e a reputação de uma organização por completo.
Neste artigo, vamos mergulhar nesse assunto para compreender como o Ransonware as a Service (RaaS) funciona, assim como formas de evitar e minimizar sua ameaça.
O que é Ransomware as a Service (RaaS)?
Nos últimos anos, o ransomware se consolidou como uma das ameaças mais recorrentes do cenário cibernético, atingindo desde usuários comuns até grandes empresas e serviços essenciais. Com essa popularização, surgiu um novo modelo: o Ransomware as a Service (RaaS).
Inspirado em modelos legítimos como o SaaS (Software as a Service), o RaaS permite que criminosos vendam ou aluguem kits prontos de ransomware para outros agentes mal-intencionados. Ou seja, quem desenvolve o código não precisa executar o ataque e quem aplica o golpe não precisa ter conhecimento técnico.
Esse modelo funciona como um verdadeiro serviço: com fóruns privados, suporte técnico, atualizações constantes e até programas de afiliados. Ele tornou o ransomware ainda mais acessível e perigoso, já que permitiu a entrada de criminosos inexperientes nesse tipo de ataque.
Desde 2019, o RaaS vem crescendo de forma expressiva
e já representa uma parcela significativa dos incidentes de cibercrime no mundo.
Como funciona o modelo de negócios do RaaS
Como vimos, os desenvolvedores centrais vão construindo sua reputação na dark web e criando sua visibilidade. Diferente da deep web (conteúdos privados, como intranets ou bancos de dados), a dark web é conhecida por hospedar fóruns clandestinos, mercados ilegais e, também, plataformas de Ransomware as a Service.
Nestes fóruns eles oferecem diversas formas de comercialização dos malware de extorsão. As principais são:
- Assinatura mensal ou anual: Os afiliados pagam um valor recorrente para ter acesso contínuo ao kit de ransomware, com direito a atualizações, suporte técnico e novas versões do malware.
- Taxa única (compra direta): O criminoso paga apenas uma vez pelo kit de ransomware, ficando com o software para uso próprio sem divisão futura de lucros.
- Programas de afiliados: Sem custo inicial, mas o desenvolvedor oferece a ferramenta e cobra uma porcentagem sobre cada ataque bem-sucedido. É o modelo que mais atrai iniciantes, já que reduz a barreira de entrada.
- Divisão de lucros (profit-sharing): O afiliado realiza o ataque e o valor do resgate é dividido com o grupo que criou a plataforma. Normalmente, a fatia do desenvolvedor varia entre 20% e 40% do valor arrecadado.
Depois de adquirida a ameaça virtual, os atacantes se dedicam a encontrar a vítima perfeita. Precisam escolher se seu alvo será uma grande empresa ou múltiplas empresas pequenas, assim como devem escolher entre diferentes formas de acessar suas vítimas como phishing e spear-phishing.
Até mesmo a escolha da técnica usada pode influenciar na reputação dos desenvolvedores, uma vez que muitos desses grupos tendem a divulgar seus resultados e o arrecadamento obtido com os golpes. Formas de pagamento como as citadas acima (programa de afiliados e divisão de lucros) são alguns dos indicativos de que esses programadores também estão interessados no quanto é possível arrecadar com vítimas de grande porte.
Etapas de um ataque via RaaS
Para que possamos entender a movimentação típica nesses casos, podemos pensar no seguinte passo a passo:
1.Comprometimento inicial:
- Ocorre por meio de phishing em massa ou spear-phishing direcionado, explorando e-mails falsos, anexos maliciosos ou links comprometidos.
- Também pode acontecer via credenciais vazadas encontradas na dark web ou obtidas por infostealers.
- Outra porta de entrada comum são vulnerabilidades não corrigidas em softwares, serviços de acesso remoto (RDP, VPNs) ou dispositivos IoT expostos.
2. Movimento lateral:
- Após a invasão, os atacantes exploram a rede interna, buscando mapear a infraestrutura e identificar servidores, bancos de dados e endpoints críticos.
- Tentam elevar privilégios para acessar contas administrativas.
- Ferramentas de administração legítimas muitas vezes são usadas para dificultar a detecção.
3. Implantação do ransomware:
- O código malicioso é distribuído pela rede e executado de forma coordenada, muitas vezes em horários de baixa atividade da empresa.
- Os arquivos e sistemas críticos são criptografados, impedindo a operação normal.
- Algumas variantes também realizam exfiltração de dados antes da criptografia, garantindo uma segunda camada de pressão.
4. Extorsão e negociação:
- A vítima recebe uma nota de resgate personalizada, muitas vezes exibida em tela ou enviada por canais seguros.
- Os criminosos exigem o pagamento em criptomoedas (como Bitcoin ou Monero), por serem mais difíceis de rastrear.
- Em casos de dupla extorsão, além da criptografia, os dados roubados são usados como ameaça de exposição pública caso o resgate não seja pago.
5. Encerramento ou reexploração:
- Se a vítima paga, os atacantes geralmente fornecem a chave de descriptografia, mas podem manter acessos ocultos para ataques futuros.
- Muitas vezes, esses acessos são revendidos em fóruns clandestinos, permitindo que outros grupos explorem a mesma rede.
- Isso cria um ciclo contínuo de vulnerabilidade, mesmo após o incidente inicial.
Estratégias para se proteger do RaaS
Para criar uma abordagem eficiente de proteção contra-ataques de Ransomware as a Service é preciso combinar o uso de ferramentas, processos e conscientização.
Como um primeiro passo, é importante manter sistemas atualizados com patches, utilizar autenticação multifator (MFA) e adotar senhas longas e complexas. Essas práticas básicas, muitas vezes negligenciadas, reduzem significativamente a superfície de ataque e dificultam que criminosos explorem vulnerabilidades conhecidas.
Além disso, é fundamental implementar estratégias de proteção de dados. A realização de Backups isolados, testados regularmente e mantidos offline garante que informações críticas possam ser recuperadas rapidamente em caso de ataque, minimizando interrupções e perdas financeiras. Complementar a proteção técnica com treinamento contínuo contra phishing e engenharia social ajuda a fortalecer os usuários, que são considerados pontos mais vulneráveis em qualquer organização.
O monitoramento constante e a capacidade de resposta rápida são igualmente essenciais. Ferramentas de detecção e resposta avançadas, como EDR, XDR e SIEM, combinadas com equipes de SOC operando 24/7, permitem identificar ameaças em tempo real e reagir antes que causem danos irreversíveis. Paralelamente, planos de resposta a incidentes claros, com papéis bem definidos e comunicação eficiente, garantem que todos saibam exatamente como agir durante um ataque, reduzindo confusões e atrasos críticos.
É fundamental também abandonar manuais de segurança desatualizados e adotar modelos modernos como
Zero Trust, integrando inteligência artificial e gestão contínua de exposição a ameaças. Essa abordagem proativa não apenas reforça as defesas contra-ataques de RaaS, mas também transforma a segurança em um processo contínuo, capaz de acompanhar a evolução das técnicas dos criminosos e proteger os ativos mais críticos de maneira efetiva.
Conclusão
No artigo de hoje compreendemos como o modelo de Ransomware as a Service transformou o ransomware em um verdadeiro negócio estruturado, com profissionais especializados desenvolvendo ferramentas sofisticadas e oferecendo suporte a afiliados para realizar ataques de forma eficiente.
Diferente do ransomware tradicional, esse formato é mais lucrativo, resiliente e acessível, permitindo que até criminosos inexperientes consigam executar golpes de grande impacto. O resultado é uma ameaça cibernética crescente, com repercussão global, capaz de interromper operações críticas, comprometer dados sensíveis e gerar prejuízos financeiros e reputacionais significativos.
Diante desse cenário, a prevenção se torna essencial. A adoção de estratégias modernas, como Zero Trust e inteligência artificial, aliada à gestão contínua de exposição a ameaças, permite que empresas identifiquem riscos de forma proativa e respondam rapidamente a incidentes, minimizando impactos e fortalecendo sua postura de cibersegurança.
Mais do que uma medida de proteção, essa abordagem oferece um diferencial competitivo. Organizações capazes de unir prevenção, inteligência de ameaças e resiliência não apenas reduzem a probabilidade de sofrer ataques, mas também demonstram maturidade e responsabilidade digital frente a clientes, parceiros e autoridades.
Em um mundo onde o ransomware se profissionalizou e globalizou, investir em segurança não é apenas uma necessidade, mas uma estratégia estratégica para garantir continuidade e confiança nos negócios.









